Dr Ruy Macedo

Lagartas

Tratamento

A ordem Lepidoptera possui mais de 100 mil espécies de insetos distribuídos pelo planeta e são conhecidos na forma adulta como borboletas ou mariposas. As formas adultas raramente causam problemas ao homem, exceção a alguns surtos epidêmicos de dermatite. Neste caso, o acidente é denominado lepidopterismo.
Os acidentes com as formas larvais do inseto (lagartas, taturanas) são denominados erucismo. Estes ocorrem quando há contato entre a pele e os pelos da lagarta.


Manifestações dermatológicas

Ocorrem muito frequentemente com as lagartas do gênero Megalopygae, embora se acredite que todas as lagartas (Lonomia, Premolis) provoquem lesão urticante na pele e mucosas após o contato inicial.

No momento do acidente, o paciente sente dor de leve a muito intensa, acompanhada de eritema, lesões papulares e prurido.

As flictenas e as vesículas podem formar-se 24 horas após o acidente, com necrose superficial e hiperpigmentação.

Mal-estar, sensação febril, náuseas, vômitos, diarreia, lipotimia e outros sintomas podem aparecer.


Manifestações hemorrágicas

São causadas principalmente pelas lagartas do gênero Lonomia. Estas, quando em contato com a pele humana, produzem queimaduras semelhantes às de outras taturanas.

Entre 2 e 72 horas após o acidente aparecem hematomas, equimoses, hematúria, gengivorragia, cefaleia e palidez.

Acredita-se que o veneno deste gênero tenha ação fibrinolítica e ação semelhante à coagulação intravascular disseminada.
Existe consumo de fatores de coagulação e a insuficiência renal aguda aparece como complicação dos fenômenos hemorrágicos.


Manifestações osteoarticulares

Ocorrem principalmente nos seringueiros da região Amazônica que entram em contato com as lagartas do gênero Premolis.

A pararamose, assim popularmente denominada, é considerada uma doença profissional de natureza inflamatória causada pelo contato acidental com as cerdas destas lagartas.

A reação cutânea inicial é semelhante à das outras espécies de lagartas (dor, prurido e eritema). A exposição subsequente e continuada acaba por levar o paciente a uma artrite crônica deformante.


Tratamento

Deve ser aplicado nos indivíduos recém-acidentados que apresentam ardor intenso. É recomendada a infiltração anestésica com lidocaína a 2% em torno da lesão. O bloqueio anestésico diminui sobremaneira os sintomas clínicos.

A aplicação de calor local, imediatamente após o acidente, pode reduzir a sintomatologia.

Os analgésicos e anti-inflamatórios de uso sistêmico ajudam no combate à dor e à inflamação, bem como o uso de corticosteroides.

Os doentes acometidos pela síndrome hemorrágica devem ser tratados em ambiente hospitalar, com reposição de plasma fresco, hemoderivados e cuidados especiais com as hemorragias internas.

Está sendo avaliado o uso de soro heterólogo específico, embora este ainda não esteja disponível, até o presente momento, em quantidade suficiente.

A extirpação cirúrgica de granulomas, às vezes, é uma medida heroica no tratamento das reações crônicas.

Finalizando, deve-se salientar que os acidentes por animais peçonhentos constituem uma emergência médica frequente em nosso meio, requerendo tratamento adequado e imediato, evitando com isso que muitos doentes evoluam para o óbito.